Sunday, February 19, 2006


Querido correspondente,

Estou finalmente em casa, mas não me demoro. É que precisava sentir algum cheiro que ainda me dizia respeito pois sigo com medo.
É que não sei bem encarar as perdas e tenho medo do meu medo se identificar com a euforia da pressa e se alastrar. Medo também do que possa me identificar por algo que não tenha por mim aceitação ou apenas medo que isso possa me fazer levar.
Os meus móveis estão empoeirados mas consigo fechar os olhos e me ver de frente. Percebo em minha pele o registro de muito tempo. E buscando apoiar-me neste retrato meu, aceito o desafio do mistério da vida e fico. Te escolho em algum lugar e fico a te esperar.

Aqui em casa passo esta noite e posso dizer que fico até te encontrar, já que não estamos longe teremos um tempo para um chá!
Mas não tarda e já tenho que voltar. Por que sou peregrina na raça serva de tudo que me queira levar.
Já quando tudo que fala de mim se funde e teima em conjugar-me subserviente desse tal de amar ou amando, me sinto fazer doar tanto que meus desejos se postumam pra existir só o seu. Não recebo o seu doar, clamo pra te ter aqui quando você repleto ainda está.
Ando pensando demais naquele filho que não tive e que as vezes gostaria de enfiá-lo entre nós. Talvez seja por que dele encheria-me de receber incondicionais cores afetuosas. E que dele saberia mais ser e viver. Eu bem sei que leva um tempo pra se acostumar com a minha maternidade criativa e imaginária. E sinto que nossas cartas virão a revelá-la com mais frequência. Quero ao menos acreditar que em algum lugar da minha vida sou capaz da mãe fazer amar!

Mas temo que um dia essa tal hora chegue mesmo pra se instalar e ai??...
E ai?
E aí que não me resta muitas nuances coloridas para fantasiar. Sinto o pesar das pálpebras a me aconselhar e com pouco tempo para sonhar adormecerei obediente.
Sobre o medo?

Ainda temerosa teimo! E teimosa sei que recebo a sua ira como se tivesse a me condenar, a lamentar meu desejo-ventre-colo... meu peito-leite-amar. Sei que não me gostas ver assim tão caidinha e não reconhece em meus olhos o lamuriar. E assim também sei que repele, ressoando o medo que fica a assoviar-me uma cançao de ninar.
A genética da sua arte é famíliar, é cincunflexa e assim se faz ser entre todos os quatro frutos daquela mulher a quem chama, com incondicional amor e admiração, de mãe! Dessa genética sinto refletir algumas de nossas diferenças. Minhas mãos tem palavras mas que são caleijadas de responsabilidades para assim se fazerem familiarmente amar, enquanto as suas pintam aspirante uma liberdade flutuante guiada e zelada por uma casa-colo-matrona disposta a sempre dar e mais... Além de que, eu não tenho os olhos do pai a me impulsionar na arte... Não tenho o orgulho da mãe a me acompanhar os pulsos a redigir.
Mas não vou falar do que nos difere como se estivesses a lamentar. Não! Pois não falta aspirações suficientes para com força desafiar a descrença. Tenho medo sim e tenho dezelo a me acompanhar, mas no ombro, trago o compromisso de ser o melhor da minha gente pra um outro orgulhar. Outro que saiu da minha gente... Se é que não estou a fantasiar... E que precisa da minha gente pra se fazer existir gente. E eis a essência daquilo que eu dizia ser minha tatuagem e que fico de lhe mostrar com o chá.

Espero que imagine onde seja e que a queira depois do meu vigésimo quarto ciclo solar.
Eu?
Acho mesmo que não me demoro aqui, pois sei que tenho muitas viagens pra fazer antes do sol do fim das férias de verão se por pra nós em Laguna Beach.
Quero que venha logo ver de cor pintei a casa para te encontrar. E que veja neste sítio singelo os nossos velhos com os capilares já cinzas a nos conjugar! E quando de novo ler o que das vísceras, em minha juventude, fiz recitar... Quando aos meus bisnetos puder contar quantas vezes os teus dedos ritmados fizeram percussão no meu tato, Fazendo tocar bem alto a música-batuque do toque dos meus desejos. Aí estarei a relaxar!
Então vou poder me quecer no seu peito negro e te chamar de meu e de preto na hora, cansada, de me deitar.
Ahh teus dedos negros envelhecidos na juventude de 1717.
Eu?
Assim vou seguindo pra durar, ainda não larguei o fumo de indústria mas ainda sigo cega de tanto te sentimentar...
De fechar os olhos e respirar teu pêlo sinto salivar. Percorro você com o que fica dentro e já sinto descansar.

Já falei isso, ando repetitiva... mas só te peço não ver piedade no que eu julgo ser compaixão. Não ver doar demasiado no que eu classifico como satisfação.
Acho que fiquei tempo demais, mas desde ontem, precisou ser assim e assim se fez necessário. Aquele que me disse ter partido, virou qualquer coisa assim que voa: borboleta! E te deixou a arte de querer mais e de ser mais bonito.
Isso tudo que a gente tenta querer ver e quer entender logo precisava ser dito...
Essas cartas não são qualquer coisa entre nós...
São os nossos ditos!!!! Benditos
Te esperando para a folia da carne...

P.S.:
Chegou aqui uma carta de algum tempo, quado ainda não sabíamos como velejar...
já devo ter estado no Egito neste tempo eaqui escrito, ou você bem que andava a me acompanhar...
te mando de volta as palavras que um dia vc usou pra me acessar!!!!!

Tata Muchacha


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