Monday, February 06, 2006



Querido Correspondente,

Não escrevo para contar como é onde estou... Creio que hoje isso não importe. Escrevo-lhe, meu caro correspondente, para conta-lhe como estou!!!
... E estou acordada para romper o ciclo do medo, mas me sinto exausta. E se você se pergunta agora por que não dormi? Eu respondo: É mais fácil controlar o pânico do pensante quando os olhos estão fechados para o acaso da subjetividade. Quando estão adaptados à realidade visual. Sem os mistérios das outras dimensões... Você me entende?Bom, o motivo do destempero? Acho que nem eu sei... Ainda estou acordada e tentando pensar apenas nas cores que vejo e que nomeio.
Seguindo as horas, deve ser madrugada e quando estava quase a adormecer, despertei-me para saciar meu desejo lácteo complementado pelo achocolatado. Mas senti que esse repentino desejo era significativo, sugestivo, sinônimo de algo extra-sensorial... Lembranças que podem remeter a colapsos de susto e pavor... Quase um pânico!...
Era pra ser só um doce... Não tinha chocolate e nem pó dele. Tinha o ventilador, o sofá gelado e uma caneca cheia de especialidades já liquidificadas... e até então eu! Mas sem querer senti a companhia do medo... Das palavras, da erudição, das poesias, do sentimento, de câncer, da morfina, de dor, da morte.
Foi então que tingiram de negro aquela que era pra ser uma noite como outras, com o famoso assalto à geladeira para alimentar a minha bezerra carente... Mas tais horas não me permitiram aceitar tão bem os fatos trazidos pelo medo. Um cochilo no intervalo me levou pra uma terra-calafrio de criaturas invisivelmente tristes. E houve um susto neste sonho: Um invasor, suposto assaltante, me abordou com a arma na gelada em minha nuca causando no medo um inexplicável arrepio. E quando, de supetão, decido encarar o sujeito, encontro nele uma máscula beleza reconhecida, mas não identificada... E ele anuncia, ainda forjando horror, que vieste pra roubar meu coração! E ai, já tendo as telas decoradas por flores de todas as cores e muitas delas escarlates; perguntei a ele se aquele era um pedido de namoro.
Desconversando ele me puxou pelo braço como quem diz: “ Relaxa pequena!” E me pediu convidou a, apenas, conhecer a língua...
Parece até que reproduzi as histórias das nossas correspondências e todo o medo de perdê-las quando a única coisa que tínhamos era... MEDO!
Mas, enfim, essas últimas palavras já estavam massageadas pelo maracujá acrescentado ao leite no lugar do chocolate. E o sonho terminou concluindo uma análise, nada assustadoramente extra-dimensional, de nossas cartas de amor.
Desculpe ser cedo demais pra te tirar do samba, meu nego!!
Amanhã antes mesmo de querer, sigo de tênis e de trem para França.

Precipita su nuevo ser. ¡Funcione antes de que usted y deje allí, dondequiera en el pasado, gritos y los roules!

Sempre dramática e tua,

Tata Muchacha