Monday, January 23, 2006


01/10/06

Querido correspondente....

Não sei mais onde estou! Comecei a seguir as nuvens, e venho há dias, pegando carona por aí. Imagino estar na Venezuela... Imagino certo! As nuvens, tanto quanto a fumaça ou a brasa queimando em fogueira, sempre foram a cólera que acelera o meu órgão pulsante vital. E acabei ficando ainda mais curiosa sobre essa imensidão de formas brancas depois que descobri que os cientistas já aprenderam muito sobre as nuvens, principalmente com o advento dos satélites artificiais, durante as décadas de 1960 e 1970. Mas que, apesar desses anos de pesquisas e do surgimento de ferramentas tecnologicamente cada vez mais sofisticadas, os cientistas continuam sem solução para uma das questões mais básicas: uma definição de nuvem. Não é fascinante meu amado?
A definição é dependente do instrumento utilizado para defini-la e é tão variável quanto indefinível... Ahhh, isso me faz lembrar do dia em que estávamos na Índia e conhecemos a teoria Quântica. Lembra? As possibilidades, as inúmeras localidades da matéria e a vontade... e a incapacidade humana de compreender o que está além do logicamente provável!
Ainda supondo estar na Venezuela tenho que te contar do cientista que me deu carona e que iniciou todo assunto desta carta... Ele fazia o microfone estalar um som ritmado só de passa-lo nas minhas costas e com sua imensa vocação e paixão pelas nuvens ele acrescentou que tentar definir as nuvens é "como dar-lhes notas: Se você atinge 90 ou mais, você ganha A; mas o que dizer de alguém que atingiu 89,8 e só ganhou B? Isto é válido?
Ainda falando do mesmo... soube que ele vive em busca desta definição, e segue seguindo os rastros da primeira nuvem que o despertou interesse.
Eu estou sob a carona dele há um bom tempo, o que você deve notar pela ausência de notícias, mas ainda não sei o nome deste senhor meio maluquinho. E para enfim chegarmos ao espanhol, conversamos em vários idiomas tentando nos entender... ele é tão obcecado pelos algodões celestes que se perde todo para sair delas e trocar palavras. E não sabendo muito sobre ele, supus que ele tivesse nascido no Equador e passado a vida desde os 3 anos na carona do caminhão de seu pai (esse mesmo que me transporta)... suposições são, para mim, uma forma encantada de enfeitar as pessoas com cores e flores por mim sugeridas...
O vento aqui não me toca a face pois o calor me faz marrom. Não quero entender muita coisa, nem parar muito tempo aqui... Por isso parei um pouco para sentir para que lado me leva o tempo. Acabei de tomar um banho gelado na bica de uma casinha na beira da estrada. Comi Chili com pão sírio e estou a descansar no porão desta hospedaria.
Hoje é dia do Fotógrafo e não pude deixar de fotografar você no pensamento por todo o decorrer deste dia... E lembrei-me das fotos que vejo nas suas retinas. E é estranho te conhecer tanto na filosofia e ainda corresponder-te com a mesma euforia emblemática. Esse hábito, de estar postando, me faz criar ou memorar-me das palavras que queria ter escrito quando descobri as letras. E essas recordações me trazem bons amigos... resgatam velhas químicas, e o cheiro de coisa guardada no sol marrom tem sabor de madeira e de campo.
Meus olhos já se fecham ao retratar você. Talvez seja um impulso instintivo de encontrar-te quando adormecida... Ou a certeza de que hoje irei fazê-lo... Ou o ardor climático que me fadiga o corpo e reclina minha cabeça sobre os seus braços enquanto escrevem...
E por isso, lamento ser corriqueira e previsível... embora ainda insista em te trazer notícias nossas.
Un beso en la costilla, uno abrazo
i uma fungada bochornosa en el viento que bate en la cara que hace despertado encima hasta de este adios!

P.S: Ouvindo uns acordeons enferrujados, meus olhos buscam perdidamente a afeição da curiosidade alheia!
Tua,
T. Muchacha

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