Friday, April 07, 2006



resíduo...

do Lat. residuu
adj.,
que resta;
s. m.,
aquilo que resta;
substância que resta de uma reacção química;
fezes, lia, borras, sedimento.

A noite do fim de semana por si só tem uma particularidade: esconde na escuridão os barulhos de uma alegria eufórica.
Os ruídos são entorpecentes. E, em muitos casos, o sufoco criado pela responsabilidade de ocupar uma cadeira no mercado, gera a necessidade do disfrute de substâncias com as mesmas características desses ruídos.Por que a ausência da luz no céu do final de semana é sinônimo do desejo de expurgar o amargo de nossas vidas e em poucas horas, inconsequentemente solicitar açúcar para curar o mal...
Não me agonia este relato factual das trevas. E sinceramente, nem poderia pois, se não estou a embriagar-me com alguém qualquer de minha agenda eletrônica celulática, nesta sexta feira densamente escura e sugestiva ,é por que não pude.
Ouve uma dessas ocasiões noturnas em que optei, sem qualquer consciência da consequência, por perpetuar a minha espécie doando meu útero para abrigar tal criatura. E o custo disso é a confiscação de alguns desses momentos.
Mas esta criatura advinda da abnegação da luz não pode ser culpada e/ou condenada por esta sexta de recesso. Por que estar ao lado dela é luz... Porém, é este silêncio que me toma que me dói no lado esquerdo,no peito. E á reclusão dos meus sons são tamanhas e não dimensionais que chega a ser físiológico o meu desconforto. E por assim ser ele, de brinde me traz a insônia.
Não me desagrada a falta do apetite sonífero. Não!!! Mas é que hoje, particularmente hoje, encontrei na escuridão de uma noite do fim de semana, aquilo que apenas resta... A substância restante de uma reação química típica do gênero humano: a tão indesejável e célebre solidão residual.
Dizia um certo monge, que conheci numa dessas buscas de alívio pra mente, que esse é o efeito da contaminação do nosso programa de fábrica. A residualidade da solidão, aquela sensação de não conseguir preencher um mísero furo na sua parede vital, é o diagnóstico da nossa maneira errônea de perceber a vida a partir do centro do nosso próprio ego. Consecutindo nas delusões.
Delusões, segundo este mesmo pacificador homem, são os nossos venenos mentais. É tudo aquilo que nos causa sofrimento e dor. E assim sendo, a partir dos resíduos das nossas dores, percebemo-nos sós e defeituosos. Se amamos acabamos por projetarmos as causas de nossa felicidade no outro, ou seja, fora de nós mesmos. E assim geramos apego e logo estamos sofrendo com tal busca.

Perguntei-lhe como se justificam as relações então? E o tal homem da paz disse que devemos nos compreender interdependentes e estender a nossa real felicidade com gestos de bondade a todos.
Sei que é lògico: se você é feliz logo eu serei por que você é uma extenção de mim. Mas onde está a desvinculação do afeto? Onde está a individualização da busca?
Não parando de palestrar sobre este assunto residual, falou que gerando as causas da felicidade, combatendo no pensamento a raiva, o apego, a intolerância e tudo aquilo que resta, todos os borrôes são extintos.
E ainda dubiamente crente de suas palavras mongísticas me perguntava: Como conseguiremos não ter raiva daquele que nos acorda com ofensas? Como não desejar que ele escute umas palavrinhas dolorosas sobre o seu comportamento hostil e perdulário?
E a resposta foi: meditação! Pois a mente, que na verdade encontra-se no chakra cardíaco, através da meditação, nos permite ter total acesso e controle desses venenos e resíduos sólitos. E, ao contrário, cada raiva contida em um pensamento volta-se para nós em outros momentos e as experiências de ofensas se repetirão como um ciclo... Quanta sabedoria tem um buda, pensei ainda sozinha em minha escuridão factual. É por isso que realmente não deve ser fácil se tornar um ser iluminado...
Principalmente numa sexta feira sedimentada pela dor solitária e ruidosa.
Contrariar nosso programa de fábrica... Instalar, meditando, um antivírus... e amar todas as pessoas sem qualquer apego e, acrescentaria eu, caso monja: Não gritar com seu filho quando ele te agride ou te desobedece e mais do que isso não se sentir ofendido quando seu pai confessa se irritar com a sua própria existência...
Senhor Buda, veneravelmente admiro o seu néctar puro de proporcionar a nós o deleite em seus ensinamentos... Sua filosofia é mais eficaz que qualquer terapia existencialista e sua ciência compreendeu a verdadeira capacidade da mente. Sempre entendi o pensamento como fonte de tranformação e como agente tranformador da realidade... Mas hoje, os resíduos me confundem e eu já não posso e não consigo meditar. Espero a alvorada do sábado com sede fugaz de saciar meu desejo de acordar a minha luz. E espero o sono sentada, na companhia da fumaça da minha cigarrilha. O máximo que me ocorre é que consigo esboçar um sorriso de satisfação de ter o meu silêncio quebrado pela manifestação da energia elétrica.
Isso permite que certa musicalidade me acalme nesta treva solitária de uma sexta feira à noite. Mas a fome de diversão barata e entorpecente, gerada pelo vazio do que resta, me estremece agitando meu cansaço.
Sou silêncio e luz. Sou ruídos e escuridão... Sou matéria e sonho...
Mas com gratidão reconheço: Acredito em tudo o que você diz. És a melhor descrição da teoria da física quântica elaborada há 2600 anos... Mas hoje... Bom hoje logo acaba!!!
Um pouco aliviada pelos toques dos meus dedos nas teclas, esperançosa sigo em busca do meu filme!!!
Não é, antagonicamente lindo?
E o que é beleza?
O que quer que seja já rascunhei um pouco e demais por agora e pretendo preencher essas fezes, lia e borras sedimentosa com o cumprir do sono!
Desejo que todas as pessoas sejam felizes. Por que mesmo não tendo virtuosos sentimentos reconheço na felicidade uma via mais expressa para a realização pessoal traçada como meta desde as duas cambalhotas!!!
Já é um começo... É assim que faz senho Buda?
Madrugada até que animada de um fim de semana solitáriamente residual... não?